Atividades para Deficientes Auditivos:
Características do Desenvolvimento do Deficiente Auditivo
O desenvolvimento completo de um
indivíduo está muito relacionado com o desenvolvimento dos sistemas
sensorial e perceptivo, pois é através desses sistemas que os estímulos
ambientais são transmitidos ao indivíduo. Quando ocorre algum
impedimento em um desses sistemas, o desenvolvimento do indivíduo pode
vir a ser prejudicado devido à dificuldade de interagir com o ambiente.
No caso do deficiente auditivo, as suas
características especiais (físicas, psicomotoras e cognitivas) estão
associadas ao “início da surdez, etiologia, localização da lesão e
quantidade e qualidade dos estímulos ambientais que a criança é exposta”
(Pedrinelli & Teixeira, 1994). É importante o diagnóstico precoce
da surdez, possível a partir do 5º mês de gestação, para que sejam
proporcionados estímulos adequados para o completo desenvolvimento do
indivíduo.
Aspectos cognitivos e emocionais
Segundo Vygotsky (1993), o maior desafio
para o deficiente auditivo no campo intelectual é a “formação de
conceitos, generalizações e abstrações” por envolverem comportamentos
verbais, sendo mais importante para eles a memória visual.
Ainda segundo os autores, o deficiente auditivo pode apresentar certos problemas de comportamento como:
- Relutância em manter contato com pessoas estranhas;
- Relutância em mostrar o aparelho auditivo, tentando esconder a deficiência, principalmente em adolescentes;
- Concretismo na análise da realidade;
- Rigidez de pensamento;
- Imaturidade em relação ao ajustamento social;
- Tendência para o isolamento social dos ouvintes;
- Ansiedade;
- Capacidade de concentração reduzida.
A imagem corporal e o autoconceito
também podem ser influenciados pela surdez. Isso porque são formados
através de experiências oriundas do sistema vestibular, cinestésicos e
tátil. “Quando a criança amadurece e começa a dar significado às
informações visuais e verbais é que a imagem corporal e o autoconceito
são afetados por estes sistemas. Normalmente esta mudança começa entre
sete e oito anos. As crianças com deficiência visual e auditiva têm um
grande impacto nessa mudança” (Pedrinelli & Teixeira, 1994).
Aspectos físicos e motores
Os diversos tipos determinam quais serão as necessidades e as limitações a serem trabalhadas com o deficiente auditivo. Muitos apresentam certo grau de retardo no desenvolvimento motor se comparado com crianças ouvintes, mas estudos mostram que este fato está muito mais relacionado com o estímulo oferecido ao indivíduo do que a uma característica da surdez.No mundo dos ouvintes, a grande maioria dos estímulos é oferecida de maneira verbal, não sendo eficientes com os surdos. Por isso, quanto mais cedo a surdez for diagnosticada, melhor será o desenvolvimento físico do indivíduo surdo, uma vez que os estímulos serão fornecidos de maneira adequada.
Um bom desenvolvimento físico e motor é muito importante ao deficiente auditivo, pois é “através do corpo que mais freqüentemente experimentam situações de sucesso, tornando-se um recurso de comunicação e interação social sem comparação”.
Esporte e deficiência auditiva
As modalidades especiais para deficientes auditivos visam atender
muito mais a necessidades sociais e de comunicação do que condições
físicas. A procura por este tipo de esporte deve-se, segundo Pedrinelli
& Teixeira (1994), a:- Atividades negativas para com a surdez por parte dos ouvintes que os rodeiam;
- Ênfase na fala como única forma de expressão por parte dos ouvintes, o que dificulta a comunicação.
Dança, música e deficiência auditiva
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, é possível trabalhar música com deficientes auditivos, sendo eles capazes de “responder a ela através da dança e da expressão corporal. De forma adequada a cada ritmo e de maneira intensa e alegre” (Pedrinelli & Teixiera, 1994).
O trabalho com a música pode ter dois objetivos: a música por si só ou ainda fins terapêuticos (enriquecimento do vocabulário, melhoria da auto-imagem, estimulação da leitura labial, desenvolver ritmicidade na fala e introdução ao mundo sonoro).
Para tanto, a criança deve ser estimulada a “descobrir e a perceber as vibrações sonoras através de todo o seu corpo (tocar instrumentos, realizar movimentos rítmicos com o corpo, palmas, etc)” (Pedrinelli & Teixeira, 1994).
“A utilização de música e dança não deve ter o intuito de ‘normalizar’ a criança com dificuldade de comunicação verbal, preconizando essencialmente a sua oralização. O ser humano como sistema complexo apresenta uma infinidade de aspectos que devem ser abordados. Assim, o mais importante é promover o seu bem-estar, auxiliar sua auto-aceitação e auto-valoração, a reconhecer suas limitações e tirar o máximo de proveito de suas infinitas potencialidades” (Pedrinelli & Teixeira, 1994).
Assistam este filme:
Relacionamento professor X aluno deficiente auditivo
Pedrinelli & Teixeira (1994) descrevem alguns pontos que devem ser observados quando em uma aula na qual haja deficientes auditivos:
- Enxergar a criança mais do que a deficiência;
- Considerar as limitações, mas enfatizar as capacidades;
- Estar informado sobre a etiologia, local e gravidade da lesão;
- Procurar ajuda da família ou mesmo de outros profissionais envolvidos com a criança, se for necessário esclarecer algumas dúvidas;
- Manter-se frente ao aluno quando estiver falando;
- Usar todos os recursos possíveis para comunicar-se procurando certificar-se de que o aluno compreendeu a mensagem;
- Não mudar constantemente as regras de uma determinada atividade;
- Não articular exageradamente as palavras;
- Substituir as pistas sonoras por visuais, se necessário.
Exemplo de atividade Ritmica:
- Objetivos da atividade:
Desenvolver noções de ritmo e coordenação motora global;
- Objetivos do grupo:
Demonstrar a utilização da linguagem gestual, de sinais (libras) e cores para a comunicação com os alunos deficientes auditivos;
Posicionamento do professor perante a classe.
- Descrição da atividade:
No primeiro momento, os alunos estarão dispostos em círculo e, parados, deverão bater bola no ritmo estipulado pelo professor;
Num segundo momento, os alunos deverão andar
em círculo em volta do professor, batendo a bola de acordo com o ritmo
do próprio andar;
Num terceiro momento, os alunos deverão
observar as cores e os números indicados pelo professor para formarem
grupos durante a execução da atividade.
· Bola vermelha – Pare !
· Bola amarela – Ande !
· Bola verde – Corra !
Exemplo: se o professor levantar a bola amarela e fizer o número 2, os alunos deverão andar em duplas.
- Estratégias:
Estilo de ensino: tarefa.
Organização da turma: em círculo, formando grupos de acordo com as ordens do professor.
Estratégia de comunicação: leitura labial, gestos, libras e cores.
Atividade Física para Deficientes Auditivos
Segundo o Instituto Nacional de Educação de Surdos:
A deficiência auditiva traz algumas limitações para o desenvolvimento do indivíduo, uma vez que a audição é essencial para a aquisição da língua oral.
Inicialmente, a surdez interfere no
relacionamento da mãe com o filho e cria lacunas nos processos
psicológicos de integração de experiências que irão afetar, em maior
oumenor grau, a capacidade normal de desenvolvimento do indivíduo.Embora
não se tenha uma estatística geral, é grande a incidência de casos de
surdez.
O Censo Escolar/2004 computou 62.325
crianças surdas matriculadas nasescolas de todo o país. Esse fato trouxe
a necessidade de preparar os professores para atender, de forma
adequada, essa população.
O objetivo deste texto é, portanto,
fornecer informações básicas sobre a audição,a deficiência e o
deficiente auditivo, para facilitar a intervenção do professor de
Educação Física, nas turmas onde estiverem incluídos alunos surdos.
Audição:
É o sentido por meio do qual se
percebem os sons.O processo normal da audição inicia com a captação de
ondas sonoras pela orelha externa e prossegue através da condução dessas
ondas pela orelha média. Aochegar à orelha interna, as ondas sonoras
são transformadas em impulsos elétricos, que são enviados ao cérebro. No
cérebro se dá a decodificação dos sons, o que caracteriza aaudição
propriamente dita.
O som possui características que
influem na audição. Uma delas é a sua capacidade de se propagar nos
meios gasoso, líquido ou sólido. Essa propagação, se dá sob a forma de
ondas, provocando uma vibração tal que é capaz de ser transmitida para o
cérebro através do ouvido (meio gasoso / ar) e do corpo como umtodo
(meio sólido / ossos). Outras características que influenciam
diretamente na qualidade da audição são aintensidade e a freqüência. A
intensidade é determinada pela amplitude da onda sonora, refere-se ao
volume do som e é o que permite distinguir um som forte de um som fraco.
É medida emdecibéis (dB).
A freqüência varia de acordo com a
quantidade de ondas emitidas em umdeterminado espaço de tempo e é o que
faz com que um som seja alto (agudo) ou baixo(grave). É medida em Hertz
(Hz) ou Ciclos por Segundo. Assim sendo, a capacidade de ouvir
determinados sons vai depender daconjugação entre o grau de perda em
decibéis e as freqüências preservadas na orelha interna.
É através do cruzamento dessas duas
informações que se obtém o resultado da audiometria, que é o exame que
determina o grau de audição das pessoas.
Deficiência Auditiva:
Essa expressão sugere a diminuição ou a
ausência da capacidade para ouvirdeterminados sons, devido a fatores
que afetem quaisquer das partes do aparelhoauditivo.A Política Nacional
de Educação Especial define a deficiência auditiva comosendo a “perda
total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade de compreender
afala através do ouvido” (BRASIL, 1994).
Essa definição permite concluir que:
1) Existem diferentes graus de perda auditiva;
2) A surdez pode ocorrer em diferentes fases do desenvolvimento;
3) A sua pior conseqüência é a impossibilidade de ouvir a voz humana (fala).
Dependendo da época da instalação da
deficiência e do grau da perda auditiva, o indivíduo pode ter
dificuldades no relacionamento, na comunicação, na compreensão
deconceitos e regras e na apreensão de conhecimentos através dos meios
mais comuns (alíngua oral e textos)
No padrão normal de audição, o limiar
de audibilidade vai até 25 dB em todas asfreqüências do espectro sonoro
(entre 250 e 8000 Hz).
Já a classificação do grau de perda, segundo o Padrão ANSI (1969), é a seguinte:
Audição normal 0 a 25 dB
Deficiência leve 26 a 40 dB
Deficiência moderada 41 a 55 dB
Deficiência acentuada 56 a 70 dB
Deficiência severa 71 a 90 dB
Deficiência profunda Acima de 90 dB
A perda leve permite ouvir os sons,
desde que estejam um pouco mais intensos.Na perda moderada há a
necessidade de se repetir algumas vezes o que foi dito edificuldade de
falar ao telefone, com a possibilidade de troca da palavra ouvida
poroutra foneticamente semelhante (pato/gato, cão/não, céu/mel). A perda
acentuada nãopermite ouvir o telefone, a campainha e a televisão,
tornando necessário o apoio visualpara a compreensão da fala. A perda
severa permite escutar sons fortes, como os de caminhão, avião, serra
elétrica, mas não permite ouvir a voz humana sem amplificação.Na perda
profunda só são audíveis sons graves que produzam vibração (trovão,
avião).
Assim sendo, se uma criança já nasce
com ou adquire uma surdez severa ou profunda antes de ter acesso à
língua oral de sua comunidade, vai ter muitasdificuldades de se integrar
ao “mundo dos ouvintes”.Embora seja absolutamente necessário dominar a
língua de sua comunidade,mesmo que somente na modalidade escrita,
sabe-se que a língua de mais fácil acessopara os surdos é a de sinais. É
por meio dela que esses indivíduos constroem suaidentidade e
desenvolvem-se nos aspectos afetivo, cognitivo e social.
Logo, faz-senecessário que, desde cedo,
a criança surda seja exposta a esta língua e que a família e aescola a
utilizem como meio de comunicação e instrução.No Brasil, a Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS) é reconhecida como meio legal de
comunicação e expressão dos surdos pela Lei nº. 10.436, de 2002.
Apesardisso, em seu parágrafo único, a referida lei reza que a LIBRAS
não poderá substituir amodalidade escrita da língua portuguesa. Desta
forma, não só é assegurado ao surdo ouso da língua de sinais, como é
exigido dos sistemas educacionais o ensino, tanto da LIBRAS, quanto do
português escrito.
A inclusão de crianças surdas na rede
regular vaigerar a necessidade do aprendizado da LIBRAS pelo restante
da comunidade escolar. As línguas orais e as de sinais possuem
estruturas completamente diferentes -uma é de modalidade oral-auditiva e
a outra de modalidades espaço-visual – e a língua oral, principalmente
na forma escrita, é muito mais complexa que a de sinais, o quedificulta o
seu aprendizado por parte dos surdos que usam a LIBRAS.
No entanto, a experiência tem
demonstrado que os surdos que estudam em escolas regulares possuem
leitura mais eficiente, o que influencia na escrita e na sua integração
com a comunidade.
Atividade Física para Surdos:
A surdez afeta apenas o aparelho
auditivo, não trazendo nenhum outro prejuízo,além dos já citados. Desta
forma, o desenvolvimento motor de crianças surdas costumaseguir os
padrões de normalidade, não havendo, portanto, nenhuma restrição à
práticade atividade física. Quando a surdez é acompanhada de outra
deficiência ou de algum outro comprometimento, as possíveis restrições
estarão relacionadas a esses(s) outro(s)problema(s).
A escolha de atividades físicas para
pessoas surdas deve respeitar os mesmoscritérios usados para a seleção
de atividades para crianças sem deficiência (condições desaúde, faixa
etária, condicionamento físico, interesse etc).
As atividades aeróbicas são muito
importantes, pois as crianças que não seutilizam da fala costumam ter
uma respiração “curta”, isto é, não enchemcompletamente os pulmões
deixando, com isto, de expandir a caixa torácica e deexercitar os
músculos envolvidos na respiração. Assim sendo, além de todos
osbenefícios cardiovasculares já conhecidos, no caso dos surdos, as
atividades aeróbicas também podem contribuir, indiretamente, para o
aprendizado da emissão de sons dafala.
Os surdos podem praticar qualquer tipo
de esporte e de atividade rítmica. Nocaso dos esportes, não há
necessidade de qualquer adaptação na forma de ensinar,conduzir ou
arbitrar. Tampouco há adaptações nas regras de cada modalidade. Já as
atividades rítmicas, se envolverem coreografia, costumam demandar um
pouco mais detempo de treinamento, devido à necessidade de internalizar o
tempo e o andamento daexecução dos movimentos sem o auxílio de uma
trilha sonora (mesmo com boaamplificação os surdos não conseguem
perceber a maior parte das nuances de umamúsica).
Estratégias de ensino:
Sinais visuais à Cartelas coloridas ou
bandeiras podem substituir comandos de voz; figuras podem indicar o
movimento a ser feito; números podem evidenciarseqüências de atividades,
ou a repetição de uma atividade já realizada, ou o númeroda tarefa a
ser executada, ou a quantidades de crianças que devem se agrupar.·
Demonstração, o professor costuma ser o modelo, mas é possível solicitar
que os próprios alunos façam demonstrações.
Orientações ao Professor
1 – Com relação ao relacionamento:·
Enxergar mais a criança que a deficiência;· Considerar as limitações,
mas enfatizar as capacidades;· Estar informado sobre a etiologia, o
local e a gravidade da surdez;· Ser paciente e acolhedor, sem deixar de
estabelecer limites.
2 – Com relação à comunicação:· Falar
de frente, em velocidade normal, quando a criança estiver olhando;· Usar
frases curtas e simples, mas corretas;· Usar gestos, se necessário, e
esforçar-se para entender os gestos das crianças;· Recorrer a outras
formas de comunicação (desenho, escrita, mímica), sempreque for
necessário;· Aprender LIBRAS;· Não misturar a LIBRAS com o Português.
3 – Com relação à prótese auditiva
(quando houver):· Não mergulhar na água, nem molhar;· Não permitir o uso
durante lutas ou acrobacias;· Incentivar o uso durante atividades
rítmicas (exceto dentro d’água);· Se o molde estiver pequeno para a
orelha da criança, retirar antes de qualqueratividade física;· Guardar
os aparelhos em local seguro para que não se quebrem ou se misturem.
Considerações Finais
Incluir alguém em um grupo é dar-lhe
condições para que possa participarativamente das idéias e atividades do
mesmo.Sabe-se que as escolas regulares ainda não estão suficientemente
preparadaspara receber e propiciar uma inclusão real das crianças
surdas, mas isto precisa mudar.Para tanto, é preciso que toda a
comunidade escolar se abra para essa nova experiência,pois, com a troca,
todos têm a ganhar.
As aulas de educação física podem ser
momentos e espaços privilegiados para iniciar uma mudança de
comportamento dentro da escola. O papel do professor em todo esse
processo é primordial e deve ser assumido com responsabilidade.Existem,
atualmente, muitas fontes de informação disponíveis
(instituições,internet, livros, periódicos), mas, mais do que isso, é
preciso que haja o reconhecimentodo direito de TODAS as crianças de
participar das aulas de educação física e demaisatividades escolares.
http://www.luzimarteixeira.com.br/2009/12/atividade-fisica-para-deficientes-auditivos/
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